Kintsugi é uma técnica antiga de origem japonesa que consiste em consertar peças de cerâmica quebradas. Para emendar as partes, é usado um verniz polvilhado de ouro, que deixam as marcas dos remendos visíveis nos objetos.
Essa é uma prática de reaproveitamento de material, mas que significa algo muito mais profundo para a cultura japonesa. Reflete um pensamento filosófico sobre a própria vida, dores e cicatrizes das recuperações. Interessante, não é mesmo?
Quantas vezes não precisamos nos refazer internamente diante das mudanças na jornada pessoal e profissional? É possível colar os caquinhos da alma? Os japoneses entendem que sim. Vamos refletir juntos sobre este tema.
Um pouco de história
Para isso, é preciso voltar no tempo. Mais exatamente ao período Muromachi no Japão. Tudo começou quando Ashikaga Yoshimitsu (1358-1408), comandante do exército naquele país, quebrou uma peça de chá e a enviou para ser consertada na China.
A peça voltou pra suas mãos com remendas em metal, fazendo com que Ashikaga pedisse a um de seus artesãos pra dar uma solução melhor que aquela aplicada na China. Surgiu, então, a técnica do kintsugi.
E, junto com ela, descobriu-se uma nova beleza: a da imperfeição. Isso mesmo: por meio deste episódio, passou a ocorrer a aceitação do belo mesmo diante de erros e adversidades.
Afinal, eles existem no nosso dia a dia e isso ninguém é capaz de mudar. Então é positivo entender que é viável se recuperar sempre e superar as cicatrizes. Elas são marcas que ficam, mas funcionam como sinais de lapidação e superação.
Como é feita a arte kintsugi?
Em vez de disfarçar as falhas da peça quebrada, os artesãos usavam um material denominado urushi (laca japonesa) com ouro para colar os pedaços. Assim, tornavam as partes que haviam sido emendadas evidentes. A técnica possui três estilos que podem ser usados em uma mesma peça. Confira!
- Estilo Hibi: utiliza-se uma resina ou cola misturada ao pó de ouro, prata ou platina, para colar os pedaços da peça;
- Estilo Kake: um pedaço faltante é preenchido com ouro ou resina misturada com ouro;
- Estilo Yobitsugi: um fragmento de uma outra peça é usado para completar a parte que falta na peça restaurada.
Kintsugi: conheça suas principais lições de vida
A filosofia da técnica de kintsugi se espalhou pelo mundo, transmitindo várias lições sobre a importância da resistência e do amor próprio frente às adversidades que são encontradas no cotidiano. Conheça e pratique as principais lições do kintsugi:
Conserte os objetos em vez de descartá-los
Um objeto quebrado não deve necessariamente ser jogado no lixo, mas pode ser consertado e até melhorado. As coisas consertadas podem ter um valor ainda maior. Esta lição faz a gente refletir sobre como lidamos com os nossos pertences.
Conserte seus afetos
Além dos bens materiais, o kintsugi também ensina sobre o conserto dos afetos. Isso porque existe o costume de também descartar afetos, amizades, amores e outras relações conquistadas. Talvez por preguiça, falta de tempo ou devido a alimentação de um sentimento negativo em relação à pessoa, como a mágoa.
Viva o wabi-sabi
O wabi-sabi é um tipo de beleza e um estilo de vida para os japoneses. É uma forma simples de viver em sintonia com a natureza. É aceitar a imperfeição e encontrar nela beleza e autenticidade. A prática consiste em perdoar, deixar de se comparar com os outros e abraçar a simplicidade e a modéstia. E, ainda, não gastar com coisas que não sejam essenciais.
Não se envergonhe das suas falhas
Todo mundo erra ou falha um dia. Não se envergonhe, nem se culpe por isso. Falhar não é sinônimo de fraqueza ou incompetência. Todos nós temos cicatrizes e, se elas existem, é porque um dia tivemos coragem de nos arriscar. Agradeça as experiências vividas e as lições aprendidas.
Encare a dificuldade como oportunidade
Todo ser humano passa por momentos difíceis, de sofrimento, de dor, entre outros problemas. Desemprego, doenças, acidentes, morte na família e de amigos, desastres naturais…
Ou seja, ao longo do tempo, há fracassos, desenganos, perdas, injustiças e desigualdades pelo mundo. No entanto, o kintsugi acredita que tudo o que passamos deve ser recebido como uma experiência da qual podemos sair ainda com mais força.
Encontre equilíbrio na sua dieta
O kintsugi orienta as pessoas a cuidarem de si mesmas e valorizarem aquilo de que o corpo precisa encontrando o equilíbrio na dieta. A cozinha japonesa é bastante nutritiva e equilibrada. Ela prioriza vegetais, produtos derivados da soja, baixo teor de gordura, alimentos fermentados e muito chá verde.
Valorize seu círculo de amizades
Yuimaru é uma expressão vinda de Okinawa que significa “círculo de pessoas” e valoriza as pessoas que estão ao nosso redor, como família, amigos e também os colegas de trabalho. Yuimaru preza a ajuda mútua, a cooperação com o próximo para que todos possam crescer e prosperar e o espírito de solidariedade.
Tenha paciência e seja persistente
No kintsugi, quando juntamos duas peças, precisamos segurar até que seque. Isso requer paciência e persistência. Além disso, ajuda a entender o significado do que estamos fazendo. Quando nos conscientizamos de que é preciso fazer algo benéfico pra nossa saúde, o compromisso passa a ser bem maior.
Não tenha medo da memória
Procure lembrar-se do passado, das coisas como eram antes, mas não se machuque por isso e recomponha-se. O passado faz parte de você para que possa aprender com sua experiência.
Não se sinta sozinho
No processo de cura emocional, saiba que você não está sozinho. Quando nos sentimos tristes e deprimidos achamos que ninguém irá nos ajudar. E que não queremos ser um fardo.
No entanto, no kintsugi podem ser usadas peças que fazem parte de outros objetos. Ou seja, a mistura enriquece e completa. Precisamos uns dos outros. Procure seus amigos, peça conselhos e os ajude toda vez que necessitarem. Sempre é bom ter um ombro amigo.
Agora que você aprendeu mais sobre o kintsugi, a arte da resiliência, leia também outros artigos com temas bem interessantes na editoria “Arte”, no blog da Bergerson Joias.