Raros são os seres que vêm ao mundo para marcar uma fração do tempo da humanidade com sua condição única, inigualável, inimitável. Com quantos desses seres cruzamos ao longo da vida, ou quando temos a chance de reconhecer sua existência?
Uma vida humana, longeva ou não, fará isso ao percorrer uma trajetória de algumas décadas, quem sabe 90, 100 anos, não muito mais. E se destacará entre bilhões de outras por alguma marca, um feito, pensamento ou ação que tenha promovido uma transformação, uma comoção, um pequeno marco na evolução do planeta.
Uma vida orgânica, inanimada, também é capaz de promover algo assim, e talvez nem nos déssemos conta, não fosse a riqueza de detalhes de sua existência por aqui…
As pérolas South Sea, identificadas pela primeira vez num sítio arqueológico do período Neolítico, no final da Idade da Pedra – entre 5.800 e 5.600 a.C – no Golfo Pérsico, são desses seres raros, repletos de significados. Desde a descoberta inicial, cujas peças datam de 8 mil anos, até os dias atuais, seguem sendo únicas e preciosíssimas.
Especialistas atestam que nunca haverá uma pérola South Sea com DNA igual à de outra, e isso ao longo de toda existência no reino da Pinctada Maxima – a maior das espécies de ostras, que “gesta” essas pérolas consideradas as mais valiosas do mundo. Tão valiosas que se enquadram na categoria de gemas – como os diamantes, os rubis, as esmeraldas e as safiras, que são minerais. No caso das pérolas, são gemas orgânicas.
Ambiente único
A começar por seu tamanho e peso, as ostras dessa família de moluscos bivalves alcançam em média 20 cm, podendo chegar a 30 cm e pesar até 5 quilos nos ambientes intocados, selvagens, nos quais se reproduzem. E é das águas remotas, puras, extremamente preservadas e protegidas por lei, do Noroeste da Austrália e dos mares da Indonésia e das Filipinas que vêm as pérolas South Sea comercializadas no mundo.
Na Austrália, quando nativas, na forma silvestre, elas são reguladas por cotas de extração e capturadas por mergulhadores monitorados. Nessa condição, depois de certificadas, são em geral destinadas a colecionadores. Quando cultivadas, num método desenvolvido desde os anos de 1900, mantêm suas características únicas, tamanho o rigor e o controle exigidos nas fazendas de produção. Em geral, calcula-se a relação de uma pérola a cada 1 milhão de ostras; ou a relação de três toneladas de ostras para se obter três ou quatro pérolas perfeitas em cultivo.
Ali, a temperatura natural do mar (no mínimo 21o C e máximo de 31o C), as condições climáticas (às vezes, sujeitas a ciclones) e a riqueza da alimentação (essencialmente plânctons) são determinantes para que sigam reproduzindo em beleza e perfeição o que a natureza lhes concedeu como distinção.
As ostras South Sea cultivadas são semeadas com micropedaços de um tipo de ostra de água doce do rio Mississipi (EUA) envoltos em tecido do epitélio de ostras sadias. Assim começa toda sua grandiosidade e beleza. Apenas uma pequena parte da semeadura será bem-sucedida e todo o processo levará até três anos para gerar gemas perfeitas, intactas, esféricas – dentre as de maior valor –, que não necessitarão de qualquer lapidação. As mesmas ostras ainda produzirão outras três vezes.
Peças icônicas
A condição rara dessas gemas vai se estabelecendo e o mercado sinalizando que seguem sendo dignas de marcos na história. As pérolas dos Mares do Sul acumulam recordes de valor na indústria da joalheria no mundo, e o primeiro deles veio em 1992, quando uma delas alcançou US$ 2,3 milhões. Outra peça icônica, em formato de gota, que se tornou atração no colar “Lago dos Cisnes” – usado pela Princesa Diana durante uma apresentação, em 1997, em Londres -, foi anunciada em leilão por pouco mais de US$ 12 milhões no 20º ano da morte da princesa.
Símbolo de perfeição
As maiores e mais belas pérolas do mundo não conquistaram tamanha qualificação involuntariamente ou num exagero de avaliação. Assim o são por um conjunto rigoroso de virtudes que as levam à perfeição. No caso das pérolas South Sea, o brilho, o tamanho e a cor são determinantes para o seu mais alto grau de valor:
Brilho
É essencial e deve ser eterno. Em condições adequadas de conservação, a mais perfeita das pérolas South Sea jamais perderá o brilho refletido em sua superfície.
Oriente (cor)
Sejam naturalmente brancas, creme ou douradas, num degradê suave de variações caminhando da prata ao rosê, quando a luz interagir com as incontáveis camadas de pérola nacre de sua formação, ela deverá revelar o verdadeiro e mais puro madrepérola interior da ostra que a encapsulou.
Pele e espessura do nacre
Também são únicas nesta condição, e quanto mais impecavelmente lisas na superfície, mais valorizadas serão. Pequenas e quase imperceptíveis imperfeições vão interferindo na avaliação. A espessura do nacre (ou nácar) é inigualável nas pérolas South Sea, variando de dois a seis milímetros, incomparáveis aos 0,35 a 0,70 mm das japonesas Akoya, também no rol das admiradas.
Forma
Quanto mais naturalmente perfeita sua simetria, seja arredondada ou em forma de lágrima ou gota, mais valiosa será. Detalhe essencial: nunca em tempo algum sofrerá interferência de lapidação, polimento ou correção para alcançar a forma desejada na mais alta avaliação. A obra se apresenta perfeita desde a origem, ao natural.
Tamanho
Mesmo que os avaliadores digam que a beleza está nos olhos do observador, uma pérola South Sea terá entre 11 mm e 16 mm, podendo chegar a recordes como o de 20,4 mm registrado em 2003. Assim, portanto, estão entre as maiores do mundo.