Vivemos em um momento em que o mundo físico precisa acompanhar a esfera digital. Para o universo das artes, isso passa atualmente pela ascensão dos NFTs – tokens não fungíveis.
O desenvolvimento e a venda de arte criptográfica ou NFT tem o potencial de transformar toda a indústria criativa, formando um mundo de híbridos, onde arte e tecnologia estão ligadas a um único token.
Continue a leitura para descobrir mais sobre esse conceito instigante e sobre como os NFTs estão ajudando a moldar o futuro da arte em um cenário cada vez mais digitalizado.
O que significa não fungível?
Na economia, um ativo fungível é algo com unidades que podem ser prontamente trocadas – como o dinheiro. Por exemplo, você pode trocar uma nota de R$ 100,00 por duas notas de R$ 50,00 e você continuará com o mesmo valor inicial.
Diferentemente disso, quando algo é não fungível, as propriedades são únicas e, portanto, não podem ser trocadas por outras equivalentes.
Isso vale para uma casa ou para uma pintura renascentista, por exemplo, que são únicas. Mesmo que sejam feitas fotos e vídeos, haverá apenas uma original.
O que são os NFTs?
Os NFTs, ou tokens não fungíveis, são ativos únicos no mundo digital que podem ser comprados e vendidos como qualquer outra propriedade.
Assim, um NFT é um ativo digital que é encontrado e comercializado online com o uso de criptomoedas – como Bitcoin, por exemplo.
Embora existam desde 2014, os NFTs estão ganhando notoriedade agora porque estão se tornando uma forma cada vez mais utilizada para comprar e vender obras de arte digitais.
Um NFT é criado ou “cunhado” a partir de objetos digitais que representam itens tangíveis e intangíveis, incluindo: telas, vídeos, fotografias, músicas, gifs, avatares, skins para games, ou, mesmo, um meme – como “Disaster Girl”, cuja foto original foi vendida por US$ 500 mil no início deste ano.
Com isso, na prática, os NFTs são como itens de colecionador físicos, apenas digitais. Portanto, em vez de colocar uma pintura a óleo física na parede, o comprador obtém um arquivo original digital de uma arte, que prova sua autenticidade e propriedade.
Como funcionam os NFTs?
Os NFTs podem ser compreendidos como arquivos digitais combinados com prova de propriedade e autenticidade, como uma escritura.
Para ilustrar, quando se adquire um imóvel, por exemplo, só há o direito e reconhecimento de propriedade por meio da escritura, que traz informações completas sobre o empreendimento. E essa escritura não traz em si o imóvel, apenas sua descrição. O mesmo acontece com os NFTs.
E, assim como as criptomoedas, os NFTs existem em um blockchain – um livro-razão digital com segurança contra violação.
Everydays: The First 5000 Days uma obra emblemática da transformação trazida pelos NFTs
A obra Everydays: The First 5000 Days, de Beeple (também conhecido como Mike Winkelmann), é amplamente citada como a primeira peça de arte digital de destaque vendida por uma grande casa de leilões – a Christie’s.
Essa obra foi comercializada por mais de US$ 69 milhões em março de 2021 como um token não fungível, valor acima do atingido por obras físicas de grandes artistas, como Nymphéas, de Monet, que foi leiloada por U$ 54 milhões, em 2014, por exemplo.
A obra de Beeple consiste em uma grande colagem digital, composta por 5.000 obras de arte, e que levou mais de 10 anos para ser feita.
Isso gerou um grande impacto, inserindo Beeple como um dos artistas vivos mais valiosos da atualidade e dando um maior destaque aos NFTs, especialmente ao associá-los a uma casa tão tradicional de leilão de arte como a Christie’s.
Como comprar obras de arte em NFT?
Para quem quer explorar o universo dos NFTs e se inserir no ecossistema da arte digital, será preciso percorrer uma trilha diferente daquela de quando se busca inspiração e recomendações em galerias de arte, por exemplo.
Primeiramente, será necessário obter uma carteira digital que permite armazenar NFTs e criptomoedas.
Então, será preciso comprar criptomoedas, que poderão variar conforme aquelas aceitas pelo site escolhido para comprar as obras.
Depois de configurar sua carteira digital, você poderá buscar por obras digitais em NFT. Há diversas opções. Entre os maiores provedores, estão OpenSea.io, Rarible e Foundation. Há, também, sites brasileiros, como 9block e All be Tuned.
Embora essas plataformas e outras hospedem milhares de criadores e colecionadores de NFTs, é importante fazer uma pesquisa cuidadosa antes de comprar. Alguns artistas já foram vítimas de imitadores que listaram e venderam seus trabalhos sem sua permissão.
Além disso, os processos de verificação para criadores e listagens NFTs ainda não são consistentes em todas as plataformas – algumas são mais rigorosas do que outras nesse tipo de quesito.
Por que os NFTs estão transformando o mundo da arte digital?
A revolução trazida por essa novidade, especialmente para a arte digital, está na garantia de autenticidade e propriedade. Afinal, um dos fatores que fazem com que obras de arte sejam valiosas é seu caráter único.
Mas os arquivos digitais podem ser duplicados de forma fácil e infinita, tornando a determinação de valor e posse mais desafiadora para criadores e colecionadores. Com os NFTs isso muda.
Por meio deles, as obras podem ser “tokenizadas” para criar um certificado digital de propriedade que pode ser comprado e vendido. Como acontece com as criptomoedas, é gerado um registro de quem possui a obra via blockchain.
Em muitos casos, o artista ainda mantém a propriedade dos direitos autorais de seu trabalho, para que possa continuar a produzir e vender cópias, mas o comprador do NFT recebe um “token” que prova que ele possui o trabalho “original”.
Assim, como cada NFT representa uma obra de arte, com a assinatura do artista e prova de qualquer venda ou transferência embutida no código, sua singularidade se tornou um atrativo para colecionadores. Com isso, apenas uma pessoa pode reivindicar sua propriedade, conferindo a percepção de escassez e, portanto, de valor para a obra.
Isso também tem contribuído para empoderar os artistas em escala global, que ganham mais autonomia sobre a precificação e comercialização de seu trabalho e, ainda, podem manter seus direitos intelectuais e criativos sobre a obra digital.
Qual é a controvérsia sobre NFTs e sustentabilidade?
Adentrar no universo da arte digital e das NFTs pode ser fascinante. Entretanto, como toda a novidade, este modelo também traz consigo algumas questões polêmicas. Uma delas diz respeito à pegada ecológica.
Isso porque a criação de NFTs requer uma quantidade enorme de capacidade de computação bruta, e muitos dos servidores nos quais esse trabalho acontece são alimentados por combustíveis fósseis.
O artista francês Joanie Lemercier recentemente foi notícia depois que seu NFT se esgotou em 10 segundos, rendendo milhares de dólares. Apesar da experiência inicialmente satisfatória, quando soube sobre o impacto ambiental associado, o artista criticou esse modelo, já que ele experimentou vender a obra online pensando essa ser uma alternativa mais ecologicamente correta.
Conforme levantamento, a transação consumiu 8,7 megawatt-hora de energia, o equivalente ao total que seu estúdio utiliza em um período completo de dois anos. Lemercier divulgou um comunicado documentando tudo isso e chamando a atenção para a questão da sustentabilidade em relação aos NFTs.
Novos modelos, mais sustentáveis, já estão sendo desenvolvidos e, como tudo no ecossistema digital, este é um modelo dinâmico, mutável e em constante transformação e que desperta curiosidade, interesse e oportunidades.
Para saber mais sobre o instigante universo da arte digital e dos NFTs, continue acompanhando nosso blog.