Sob os holofotes

Por Dani Britto

O pequeno Tomo Koizumi costumava levar para o jardim da infância, na província de Chiba, no Japão, uma mochila cheia de papéis de origami, determinado a se tornar um mestre na tradicional arte japonesa. Mas logo percebeu que não era tanto o papel que o encantava e, sim, o ato de coletar um espectro completo de cores.

Quase três décadas depois, Koizumi, 32 anos, ainda acumula tons, mas agora usa uma profusão de organza sintética colorida para construir esculturas majestosas que parecem buquês de hortênsias para artistas que brilham no palco em todo o mundo. Lady Gaga – a esteta-mor do incrível! – , Katy Perry, o girl group japonês Perfume, a apresentadora brasileira Sabrina Sato e a pop star de Hong Kong Miriam Yeung são apenas alguns que já exibiram suas criações farfalhantes sob os holofotes.

Tomo produz vestidos que lembram criaturas marinhas com proporções de desenho animado. Seus desenhos lúdicos evocam influências pessoais: a vibração kitsch do bairro de Harajuku, em Tóquio; personagens de Sailor Moon, um mangá que assistia quando criança; as bandeiras fúnebres brilhantes que sua mãe fazia com flores artificiais. O resultado é radiante, divertido, extremo.

Apesar de suas criações estrondosas, Koizumi mantém uma personalidade de aprendiz. Nem mesmo a colaboração com a label italiana Pucci na última Semana de Moda de Milão, uma classificação no prêmio de design da LVMH e o fato de ter agradado a ninguém menos do que Marc Jacobs tiram sua modéstia nipônica. Quer simplesmente que as roupas sejam especiais para as pessoas. “Quero que as pessoas riam e encontrem alegria nelas”, declarou.

Antes de começar na moda, as ideias de Tomo Koizumi se refugiaram no universo dos figurinos e da fotografia. Seu encontro com o livro John Galliano for Dior no início da adolescência foi um evento revelador e o fez decidir ser estilista. A marca Tomo Koizumi nasceu em 2011. Foi a queda pela extravagância e pelo fantástico, sempre em busca de estabelecer a conexão entre moda e sonho, que tocou o coração e a mente dos fashionistas ávidos por um novo enfant terrible. A energia criativa e a meticulosidade de Tomo surpreendem até nomes estabelecidos dessa indústria.

Tanto que seu debut nas passarelas internacionais é a versão moderna de um conto de fadas. Foi em 2019, depois que a estilista e jornalista de moda britânica Katie Grand descobriu seus desenhos no perfil @tomokoizumi do Instagram e decidiu orquestrar sua estreia na Semana de Moda de Nova York daquela temporada. Katie montou uma equipe de estrelas e Marc Jacobs ofereceu sua loja na Madison Avenue para receber o show. Modelos e atrizes, incluindo Bella Hadid e Gwendoline Christie de Game of Thrones, desceram as escadas em uma cascata de arco-íris surrealista, colocando Koizumi na capa de vários portais de moda instantaneamente. Sua fada-madrinha do direct classificou Tomo como “brilhante. Seu trabalho e personalidade são vivazes; seu otimismo é contagiante.”

Certamente, diante das perdas econômicas e conceituais da pandemia de Covid-19, Koizumi forja uma nova proposta em minibabados oferecendo a vibração, a irreverência e a leveza de que a moda contemporânea precisa. Prodígio da

encenação, parece que esse jovem criador entendeu a receita perfeita para ser notado: criações impressionantes, tanto pelo seu volume como pelo seu tecnicismo. Uma versão vanguardista, romântica e ultracolorida do futuro.

“Prodígio da encenação, parece que esse jovem criador entendeu a receita perfeita para ser notado”

O kimomo encontra o samba

Os brasileiros já puderam conhecer de perto a arte vestível do estilista japonês na mostra O fabuloso universo de Tomo Koizumi, que a Japan House São Paulo apresentou entre outubro de 2020 e janeiro de 2021 em encontros agendados. Foi sua primeira exposição solo fora do Japão.

Foram selecionadas para a exposição 10 peças significativas na carreira do artista, produzidas entre 2019 e 2020, e ainda três criações exclusivas feitas para o Brasil, mesclando referências do nosso Carnaval e dos kimonos tradicionais japoneses. A mostra apresentou o vídeo do icônico desfile em Nova York e detalhes que mostram um pouco dos bastidores criativos e da história meteórica de Tomo. “Tomo Koizumi é extravagante, surpreendente, criativo, vibrante. Suas peças são o perfeito encontro da intimidade do trabalho manual ao glamour, à sofisticação e à teatralidade.. Para criar peças de grande impacto, bebe e mescla fontes tradicionais e populares do Japão, como os mangás, os robôs e o estilo Lolita”, comenta Natasha Barzaghi Geenen, Diretora Cultural da Japan House São Paulo.

E, assim, o magnetismo dos incríveis vestidos do japonês vai costurando universos e atribuindo valor de arte à moda.

Ou seria conotação fashion-utilitária à arte?

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