O trompe l’oeil é uma técnica de arte muito antiga, que procura criar ilusão de ótica no observador. Do francês, enganar o olho, o trompe l’oeil se destaca entre as grandes obras e pinturas em museus e galerias no mundo todo.
A arte como curadora de sentimentos
A arte é um movimento que inspira, que traduz sentimentos e emoções, e que procura fazer interagir criador e observador. É nela, e através dela, que podemos desbravar mistérios, procurar enigmas e charadas deixadas por seus artistas.
Além disso, é uma ótima opção para fazer brincadeiras, reflexões, críticas e posicionamentos sociais.
Assim como outros movimentos artísticos e culturais, o trompe l’oeil também tem as suas construções próprias. Citações, sátiras, críticas e história são retratados nesta impressionante técnica artística.
Conceito de trompe l’oeil
Se engana quem crê que painéis tecnológicos que causam impressão tridimensional espalhados pelo mundo são uma inovação.
Atualmente, nos surpreendemos com exposições que lançam mão de recursos tecnológicos para surpreender os visitantes. O famoso painel de LED instalado no centro comercial de Chengdu, na China, provoca as mais variadas sensações no público.
A iniciativa ultrareaista, porém, permite uma experiência já testada na antiguidade, em muitos locais do planeta. A ilusão e o mistério sempre acompanharam o homem em sua jornada no descobrimento da existência, da razão e do universo.
O trompe l’oeil tem como definição um recurso artístico ou uma técnica que cria uma ilusão de ótica para quem observa uma obra de arte. Geralmente feita em afrescos, tetos, muros e paredes, o trompe l’oeil é empregado em diversas obras famosas ao redor do mundo.
Este recurso não é limitado a um período histórico, apenas, ao contrário, foi empregado em diversas ocasiões ao longo do tempo. Já na Grécia Antiga, cerca de 5 séculos a.C, há relatos do uso da técnica por pintores da época, como Zêuxis e Parrásio.
Exemplos de trompe-l’oeil nas artes
Assim como outros gêneros artísticos, o trompe l’oeil também não se restringe à pintura, mas possui amplo escopo.
Vemos o método sendo aplicado em:
Artes decorativas
Na decoração, são utilizados papéis de parede, pinturas em murais e no uso da porcelana ou do vidro que imitam objetos. Paredes, muros e pisos de calçadas em ambientes abertos também são ótimas plataformas para expor o trompe-l’oeil.
Arquitetura
O período barroco apresentou ao mundo a quadratura, o tratamento empregado em forros e paredes. Neste caso, a obra tem o sentido de alterar visualmente as dimensões do espaço, provocando um efeito em quem a observa.
Moda
Nas passarelas, roupas e acessórios que dão a impressão de profundidade nas peças ou de movimento no tecido.
Publicidade
Na publicidade, são famosas as lonas de publicidade em estádios de futebol que dão a impressão de serem em 3D.
Os grandes nomes do trompe-l’oeil
Muitos artistas presentearam o mundo e a sociedade com suas criações incríveis em trompe-l’oeil. São pintores e escultores que registraram suas marcas na eternidade, com suas provocações e enigmas.
Entre eles, temos o maravilhoso Hans Holbein, autor de The Ambassadors (1533), exposto na National Gallery, de Londres.
Perturbando o olhar dos milhões de visitantes que procuram a incógnita na pintura, ela é uma das mais icônicas do movimento.
A obra retrata o jovem embaixador francês em Londres, Jean de Dutenville, e o bispo de Lavaur, Georges le Seve.
No chão do retrato,na parte inferior da obra, uma imagem incômoda instiga os olhares de leigos e especialistas.
A representação de uma caveira, que só pode ser vista contornando o quadro, foi tema de discussão ao longo de décadas.
Andrea Pozzo, um expoente do ilusionismo artístico, cria o afresco Alegoria da Obra Missionária dos Jesuítas (1691/1694)
O representante do barroco aplicou sua pintura no forro da igreja de S. Ignazio, em Roma.
O quadro Lo Scarabattolo, de Domenico Remps (século 17), revela o interior de um gabinete repleto de objetos.
Quadros, tinta e pena, medalhas e uma caveira, que seriam a coleção particular da família Medici, parecem estar em profundidade.
Retrato de um Cartuxo (1446), de Petrus Christus, é mais uma obra que se torna referência do estilo.
A pintura a óleo sobre madeira do pintor flamengo, traz a imagem de uma mosca que parece estar presente no ambiente físico.
Nos Estados Unidos a técnica também é muito apreciada, como na obra The Old Violin (1886), de William Harnett.
O desejo de criar sensações, inspirar momentos e aprofundar ambientes é a alma da trompe l’oeil.
A trompe l’oeil na atualidade
Atualmente, existem muitos artistas no mundo inteiro que trabalham utilizando esse recurso para fazer suas criações.
Podemos conhecer as obras já citadas visitando museus, galerias e igrejas no Brasil e em países da Europa.
Além disso, em muitos outros lugares temos representações de trompe l’oeil nas ruas, em prédios e em muros no mundo inteiro.
Representando o desenho e a pintura em 3D de rua, o alemão Edgar Muller cria obras em diversas cidades do mundo.
São inúmeros projetos, como o Lava Burst (2008), Waterfall (2007), além da pintura Rio e Lava, no Brasil, em 2012.
Na América do Sul, temos o argentino Eduardo Relero e sua anamorfose, que cria um efeito realista em terceira dimensão.
Algumas de suas obras estão retratadas em vários lugares do mundo, como na Alemanha, na Finlândia, nos EUA e na França.
As cenas de Relero fazem profundas críticas sociais, combatem o aquecimento global e defendem a sustentabilidade.
Nascido em Nova York (EUA), Eric Grohe acredita que o observador de uma obra deve se integrar à ela de alguma forma.
Por isso, suas criações de murais gigantes em trompe l’oeil impressionam em vários sentidos.
São famosas as pinturas de um jogo de futebol americano que acontece num espaço entre duas imponentes colunas.
Outro desenho traz um caçador usando um chapéu convidando o público a visualizar o rio e as montanhas logo adiante.
A trompe l’oeil vai além de uma manifestação artística ou cultural, ela é a imersão do observador na obra compartilhada pelo artista.
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